Foram 3,4 mil veículos novos com a proteção neste trimestre pelas ruas da capital, alta de 57%
O número de carros blindados teve alta expressiva na capital paulista neste primeiro trimestre de 2023. Comparado ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 57%, chegando a 3.484 novos automóveis com a proteção entre janeiro e março deste ano. O número significa quase dois novos blindados por hora nas ruas da cidade. Os dados foram fornecidos à reportagem pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo.
Segundo a Abrablin (Associação Brasileira de Blindados), São Paulo é a cidade brasileira com mais carros blindados. Ao todo, são 116 mil veículos na capital paulista, segundo o Detran-SP. Em todo o país, a Abrablin conta ao menos 360 mil.
A alta de carros com proteção às balas acompanha o aumento da insegurança em São Paulo. Dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública) mostram crescimento de 15,2% dos furtos e 3,9% dos roubos neste primeiro trimestre.
Ao todo, foram 110 mil crimes como furtos, roubos, furtos de veículos e roubos de veículos entre janeiro e março deste ano ante 100 mil em 2022.
Motivos para blindar o veículo
A insegurança foi um dos motivos que fez o administrador Antonio de Souza procurar o primeiro blindado. Em 2017, sua filha foi vítima de um assalto. O episódio fez com que ele trocasse o carro para um modelo mais simples, mas com blindagem.
"Depois daquele episódio, não consegui mais pegar o carro. Eu dirigia e olhava para o lado, via a cara do bandido, via minha filha se defendendo… Então comecei com um carro blindado muito antigo, desfiz de um carro bacana e peguei um carro simples por mais segurança", conta ele.
O vendedor Junior Ribeiro, da Iron Blindados, na região da Barra Funda, zona oeste, conta que os clientes procuram o serviço especialmente após um primeiro episódio de violência.
"Depois de um sequestro, de um roubo e de um tiro, por exemplo, a pessoa quer blindar o veículo. Algumas vendem um apartamento ou ficam com uns carros a menos para ter esse blindado. Cada vez mais classes sociais têm aderido, não é mais uma coisa dos super ricos.”
Ribeiro reforça que nunca houve crise para o setor, especialmente porque não faltam clientes em busca da proteção. Há oito meses, o estabelecimento contava apenas com um galpão de blindagem. Com a alta procura, foi preciso alugar um segundo galpão, logo ao lado, para dar conta da demanda. E a expectativa da loja, para os próximos meses, é de mais clientes.
Para o empresário Roberto Rodrigues, 70 anos, a blindagem traz segurança para andar com os netos no banco de trás.
"Não tem dinheiro que pague pela sua vida. Segundo, há quatro anos, a blindagem era muito cara e os parcelamentos não tão acessíveis assim. Hoje, está muito fácil, eles parcelam… Não tem preço que pague o custo-benefício"
Custando em média R$ 70 mil, as blindagens oferecidas no Brasil são as do tipo 3-a, resistente a todos os calibres de armas de mão, inclusive submetralhadoras 9mm e o famoso calibre .44 Magnum. Também não há restrições para a blindagem de um automóvel, mas a recomendação é de carros com motores a partir de 1.6 cilindradas. A blindagem máxima, do tipo 5-a, só é oferecida para carros do exército e chefes de Estado.
Segurança vai além da blindagem
Para o advogado e gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, o aumento de carros blindados pode trazer uma falsa sensação de insegurança para o usuário, já que episódios de violência também podem acontecer durante embarques e desembarques dos passageiros.
"Por mais que haja um efeito de uma sensação maior de segurança de conseguir evitar alguns tipos de crime, como, por exemplo, esse estouro do vidro para pegar o celular, essas pessoas não estão garantindo uma segurança ideal. Porque essa segurança só é possível a partir de uma perspectiva coletiva, com políticas públicas melhores com policiamento mais bem feito e com planejamento", explica.
Para Langeani, também é preciso pensar em quem fica "à merce da própria sorte."
Fonte: Orbi Band Uol
